Se me queres nua, eu te digo: te quero nu. Arranca essas roupas surradas dos castigos da vida, das dificuldades do caminho e das desigualdade desse mundo cão. Deixa do lado de fora esse tênis sujo de passos indecisos e sem direção e entra. No meu espaço. No meu santuário. No meu abraço.
Te quero nu com a luz do celular iluminando teu sorriso com um vídeo de humor qualquer. Quero que tudo que invada meus olhos seja tua pele e tudo que invada meus ouvidos seja tua voz. E mais: que tudo que invada meu peito seja teu carinho torto e confuso a me dar vertigem de medo e de alegria. De eu não saber o que fazer a não ser continuar te vendo nu.
Te quero nu. Deixa eu ver essas marcas que, involuntariamente, você carrega na pele. Essas marcas das quedas de um menino que corria por aí descalço, com bola, bicicleta, skate, carrinho de rolimã. Deixa eu ver as tuas outras marcas, os desenhos que estão gravados a tinta na tua pele que contam um pedaço da tua história e da tua mente. Mente essa que talvez eu nunca consiga decifrar.
Te quero nu, iluminado apenas pela chama do cigarro que queima lentamente no parapeito da janela. Eu te admiro assim, de longe, vendo a tua calmaria e teu olhar distante. Esse olho distante que quando para em cima dos meus e ainda brilha. E me brilha. E depois são só sorrisos de gente que está ali pela boa companhia e pelo abraço familiar de quem já caminhou em corda bamba e sabe a dor e a delícia de derrubar casas por aí.
Te quero nu. Digo que é na tua pele que eu sinto o cheiro da vida. O cheiro doce que só uma alma atenta consegue perceber. Deixa que eu te percorra de beijos, de cabelos a fazer cócegas pela tua barriga magra. Deixa eu me perder no teu cheiro, no teu pescoço e no teu riso perdido num espaço que não se define geograficamente.
Te quero nu desses medos e dessas loucuras todas dessa cabeça inquieta e desse coração que insistem em não fazer pouso. Pausa e me causa vertigem de novo. Eu deixo. Eu aceito e pra mim tá tudo bem assim. Só segue sorrindo pra que meu caminho tenha luz.
Marina Oliveira