Quando ela e eu rompemos, não nos despedimos. Tentamos, até que tentamos. Passamos algum tempo junto em local paradisíaco. Comemos bem. Visitamos lugares de alguma forma legais. Mas não conseguimos dizer adeus.
Por causa disso, algo em nós ainda ficou. Parece que algo nos leva a pensar naquilo que passou – mesmo que estejamos inteiramente focados, agora, em nosso presente. Algo parece nos puxar. Uma espécie de dor.
Lembro-me bem. Ao assinarmos os papeis, ela foi embora e não olhou para trás. Eu a acompanhei com o olhar, pelas ruas, e até tirei umas fotos. Que se perderam num celular dos muitos que tive.
Ela não olhou para trás talvez com algum medo do que fosse olhar. Ou talvez com algum receio de voltar atrás. Ou talvez com algum receio de si mesma, daquilo que poderia vir a sentir.
Eu pisei muito na bola, hoje sei. Na época, eu não notava – ou não sentia. Essas pisadas na bola vieram-me com o tempo à memória. E só com o tempo também fui superando-as. Percebendo por que sentia assim. Entendendo melhor as âncoras que me prendiam a um passado que me tornava duro.
Ela passou a olhar só para a frente. Notei isso pelas fotos que encontro na web. Notei também pelos selfies que passou a tirar. Notei pelos lugares que frequentou. Hoje é possível achar tudo facilmente. Mas para quem conviveu para valer os pequenos sinais dizem tudo.
Quando estávamos em crise, ela saía para jantar em lugares cada vez melhores. Hoje ela faz o mesmo. Quando isso acontecia, ela via filmes que poderiam fazê-la pensar melhor naquilo por que passava. Hoje ela faz o mesmo.
Eu, de minha parte, não retomei minha vida sentimental – sinto dizer. Tentei embarcar com uma pessoa bastante problemática, e me dei mfal. Me apaixonei por outra pessoa, mas acabei me tornando apegado demais. Errei duas vezes. Houve tentativas outras. Mas não continuei e meio que me cansei. O mundo também me puxou. As prioridades.
Percebo que tenho todo um mundo novo pela frente. Um mundo que está em mim. Dentro de mim. E que só não avançou por um motivo mais do que claro: tentei, mas não consegui dizer adeus. Fiquei com algo entalado. E esse algo me impede de olhar. Para a frente.
O tempo passa, e vejo seus indicadores de crescimento. Vejo como se distancia, como se eu ainda estivesse na rua, a segui-la. Vejo seu rosto, sempre com um selfie novo. Vejo seus passos, e sinto como ela segue, fagueira.
Enquanto isso, eu tento me despedir. Dar-lhe um último aceno, mas sem conseguir. Dormir em paz, despertando com imagens, sons e lembranças. Percebendo que a despedida está em mim, e que talvez seja de mim. Não dela, de mim.
Rodrigo Contrera