A idealização antagônica de um único todo

Era todo amor, todo obsessão, todo sincero, todo puro! Era tão intenso e tão forte que era impossível resistir. A calmaria abraçava o diabo, que sorria, apaixonada! Olhem só, ela desenha na face a expressão de seriedade e êxtase, são mais perfeitos um para o outro do que se pode julgar possível. A liberdade é abraçada pela segurança. E a imaginação os prende em todos os seus desejos, ele cria, ela vive. Ela sonha, ele escreve! Ela canta, ele lê! Vivem suas vontades, às suas vontades. A idealização de amor e vida. Oh, a perfeição aos meus olhos. Juntos são um só, tudo aquilo que eu sempre sonhei. E talvez os sejam pois vivem os sonhos.

Constance

Para o personagem de trás do balcão

Eu já havia me apaixonado por você muito antes de isso ser possível.
De forma a torná-lo muito mais irreal que a irrealidade revestida pelos meus olhos em lágrimas.
É sempre nublado na minha cabeça.
Corri a língua pelos lábios e fugi com um sorriso de faz-de-conta.
Você não me atraiu, não me afastou… Mas me mostrou os braços abertos.
Eu repousei.
E sem as lágrimas do cansaço, você se tornou mais acessível para os meus sentidos.
De olhos limpos, sua imagem se tornou finalmente nítida o bastante para eu não ver em você o monstro de todos.
 
Constance

Novos conceitos

Vou passar a ver as coisas apenas com um fundamento estético. Sem raciocínio maçante nem sentimentalismos. Tira-se de tudo toda a razão, tira-se de tudo toda a vergonhosa emoção. Sem ponderar, sem esperanças. Só o que terei agora é uma consecutiva remessa de prazeres por prazeres. Trabalhando a beleza pela beleza. Dar espaço à apreciação no lugar do longo pensamento reflexivo e a sensação no lugar da pegajosa e densa emoção. Sem nenhuma expectativa, esperando apenas pelo melhor.

Constance

Naturalidade leviana

Conheceram-se num dia chuvoso de março, a época mais quente para os conterrâneos de São Paulo. Ele resmungava algumas palavras baixinho e ela se deixava molhar, rindo com o arrepio que percorria sua pele a cada gota. O tempo passava, conversavam, ela ansiava a cada toque ainda não concretizado, um roçar de braços foi tanto quanto podia esperar e nessa sensação se deixou mergulhar, sem ainda poder se molhar, ele então, se afastava o quanto podia, tentando tornar aquilo racional com quanto mais já esperasse a irracionalidade chegar, abatendo-o brutalmente. Quase tão natural quanto a respiração, a proximidade veio, mais um dia no dia de ambos, sensações, sentimentos e novas formas para se lidar com as quase mesmas situações também vieram quase despercebidamente. Toda aquela naturalidade a fascinava e num desejo de também fascinar, ela dançava aos seus pés se mostrando cada vez mais impossível, mais distante, mais inalcançável só dentro de si mesma. Tudo aquilo numa tentativa de atrair, afastava e quando se viu tão próxima de estar longe abandonou os papéis e passou a ser também assim tão natural para também encantar, e a sua naturalidade era pegajosa, a naturalidade da fascinada nunca é fascinante, ele tinha cores demais para ela e assim se tornara sobrecarregado. Ninguém precisa ser sincero o tempo todo, sinceridade é uma arma pesada para aquele que se mantém em silencio e dessa forma ela passou a também se silenciar. Ah, é o mistério, o desconhecido que tanto atrai e sendo assim, ela passou a se achar muito mais atraente, se dando espaço para também se fascinar a si mesma. Ele, por outro lado, se mostrava sempre tão interessado no auto-interesse da outra que seu ego inflado o fez encher ao próprio. Quanto mais fascinava-se consigo mesma, ela parecia mais difícil de se manter e dessa forma, pelo ter de estar e estar sempre agarrado para com ela estar, ele a prendia em si, ela ria, repelindo-o só para poder vê-lo fazer ainda mais força. Ignorava-o para vê-lo implorar atenção, não o beijava para senti-lo beijá-la faminto, não o abraçava para vê-lo agarrar-se a ela como que garantindo uma posse que com um sorriso ela desmentia só para provocar. Ah, ela já estava tão entregue!

Constance

Tudo que me remete ao passado

Tudo aquilo que remete ao passado, nós procuramos. Tudo aquilo que nos proporciona falsa sensação de conforto, nós adaptamos para o presente. Tudo aquilo que tem pretensão a um pedido futuro, nós encaramos como uma súplica e tratamos de com ela, suplicar um ao outro. Tudo aquilo que remete ao passado intenso e impressionante, nós tratamos de vislumbrar como uma passagem para o futuro que jamais existirá.

Mais forte e mais importante que o futuro é sempre o passado. E essas não são palavras que coincidam com os lábios de uma mulher sem a menor perspectiva de futuro, só que o passado vivido sempre será mais intenso que o amanhã cheio de expectativas.

Não importa o que nós vamos fazer um para o outro, não importa o quão ambos estejam dispostos a suplicar e ainda acreditar no amor, não importa, pois nós jamais acreditaremos no futuro, o passado tirou essa possibilidade de crença da gente.

Tudo aquilo que remete ao passado, nós encontramos. Tudo aquilo que remete ao passado nós enviamos um ao outro.

A saudade é a única certeza, mesmo que a saudade seja discreta e muitas vezes até pareça não existir diante do abismo que existe entre o hoje e ontem. A verdade é que ela sempre existirá na letra de uma música que remete o passado e implora pelo futuro, sempre existirá numa fotografia velha e cheia de encanto, sempre existirá em uma palavra: Sempre. E por mais que nós acreditemos no fim do significado sempre, existe uma eternidade na nossa crença e nas nossas saudades.

Eu acho que vou sentir pra sempre falta de sentir falta de você. É essa inclusive a minha eternidade que irá me manter presa a você, para sempre. Pode ser duro ou até difícil, a questão é que a verdade nunca é simples… No sentido mais clichê da frase.

Eu nunca me esquecerei de você.

Constance

Pensamentos aleatórios

Espero ansiosamente pelo dia em que a minha vida será relatada através de um filme como aqueles que tanto admiro: a história em si não é boa, mas os personagens sim. Existirá aqueles traços constantes, a repetição de uma cena ou estilo, e não será poupado o orçamento para com o zoom. Tentaremos compensar economizando em figurinos, eu mesma não me importo de aparecer sempre com a mesma roupa, acho até mesmo que esse tipo de coisa é bem interessante, logo eu veria ao andar pela rua, uma série de outras garotas tentando imitar o meu casaco de couro que lembra alguma coisa faroeste ou ainda a minha blusa verde um tanto hippie. A trilha sonora ia ser só vertigem.

A verdade é que costumo me apegar demais as coisas que que fazem parte de cada momento em especial. No momento, sou tão Oliver Tate quanto fui Constance na minha época “Oscar Wilde”. De fato, eu queria poder viver tudo o que eu sinto, e como a única fonte que sucumbe a esses meus tais desejos é a imaginação, a leitura e a escrita, lá vou eu viver pela arte de me perder, até porque agora, mais do que nunca, estou tendo grandíssimo contato com a arte, e acho que isso deve ser aproveitado, nem que seja para me tornar ainda mais perdida e delirante, é pela primeira vez, que me sinto consciente desse estado, o mundo ganhou novas cores, talvez vermelho e dourado especificamente.

Constance