Pode até fingir que não viu

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Quando nos lábios entre o beijo tem um sorriso, dois sorrisos se encontrando numa pausa breve.

Aquela pegada forte e os gestos firmes pra levar ao momento seguinte, dão lugar ao caminho dos dedos pelo rosto, e o olhar encantado de admiração, como numa descoberta fantástica.

No engarrafamento, o rádio não perdoa: “Espero que o tempo passe, espero que a semana acabe pra que eu possa te ver de novo” é quando bate aquela saudade saudável: Vocês se encontram o mesmo número de vezes de sempre, entretanto a ausência se torna muito maior, e a ansiedade pelo encontro, a escolha do figurino ideal e a observação de todo plano de fundo, por outros ângulos.

Durante as longas conversas que sempre foram corriqueiras, questionar se o sorriso terá sido a oportunidade pra um beijo. Ao invés da resposta ao diálogo, deixar-se absorver admirado pelos pensamentos: “não tinha reparado como é bonito esse sorriso”. Os gestos do outro agora soam muito mais autênticos, e saberíamos descrever cada um deles de olhos fechados. As chegadas, as despedidas, o toque, o abraço, ganharam outra intensidade. Aquela gargalhada no meio do dia, a lembrança da piada que riram juntos, quando na vitrine aquele vestido ficaria lindo no corpo dela.

Você deixou ela escolher o lugar no restaurante, desligou o ar condicionado no engarrafamento quando estava quente, mas ela estava com a garganta dolorida. Na sua geladeira, as preferências dela, na geladeira dela sua fruta preferida.

Não tem jeito: pode correr, pode inutilmente traçar uma rota de fuga. Mas a paixão ta aí, parece que ela está vindo sem permissão, entrando sem bater, desarrumando a casa, sujando o carpete, te olhando nos olhos e em breve: ela vai querer trocar a cor das suas cortinas.

Natasha Vitória, publicado em: http://taescrito.com/

Passagem só de ida

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Tem dias que a saudade comprime o peito, é uma coisa física que parece um corredor estreito que fica mais e mais estreito conforme as memórias vão voltando.

Memória é um coletivo, uma puxa a outra, e elas parecem não ter fim, girando num ciclo de imagens, cheiros, toques e sensações, que despertam pequenos prazeres momentâneos e ao mesmo tempo a pressão de você sobre você mesmo, se não romper o processo agora, pode ser infinito, rompa! Rompa o processo!

 Aos domingos, as memórias ficam mais ouriçadas, elas querem liberdade, querem ser realidade. Uma realidade que jamais novamente alcançarão. É no domingo também que tudo recomeça, amanhã é segunda e as memórias se perdem na rotina.

A rotina apresenta migalhas de lembranças, mas não te da tempo de viver o prazer da memória, apenas a lembrança. Ela aparece durante o dia, numa vitrine, na música no rádio, no perfume que ela gostava que você usasse, no incenso que acendeu pra espantar os maus pensamentos, na risada desenfreada pra aquela mesma piada que só pra ela era novidade.

 É, a rotina parece ser pior que o domingo, é na rotina que os pequenos prazeres se apresentam. É na rotina que penso em contar a ela cada passo do meu dia, e como só ela sabe me fazer entender as coisas mais simples do cotidiano.

 Foi num domingo que ela comprou a passagem só de ida. Por hora, não vi alarde a ser feito. Ainda faltavam dez, nove, oito, três dias, dois, e ela foi.  ‘Espero que saiba que te desejo tudo de melhor e ficarei aqui com a saudade e o amor de sempre’, foi o que achei pertinente dizer. Ela achou que parecia despedida. E Era. Uma despedida de tudo o que foi, uma despedida dos olhares subjetivos e dos abraços intermináveis.

Ela aterrissou numa cidade cinza, e foi o meu mundo que descoloriu, do lado de cá, vendo subir o avião, numa metáfora leve como um pássaro, simplesmente indo.

Prontamente os amigos de fé e cuidadores de plantão, correram com suas latas de tinta, pincéis, cryons e aquarelas, dispostos a colorir o black & White que ela deixou. Me ofereceram suas cores, misturas e prazeres artísticos com os quais colorem suas vidas, as vezes também em tons pastéis.

Aos poucos, fui enxergando as cores e colorindo espaços antes não vistos, caprichei nos acabamentos, com cores vivas e sem muito sentido. O Amarelo prevalecendo sempre, sempre iluminando. Parece que todas as coisas recuperaram sua cor, ajustaram a gama e reduziram a saturação, o mundo todo re-coloriu. Tive que aprender a pintar o meu próprio universo, e isso é coisa de artista.

Mas sabe? Não vou esquecer suas cores, não vou esquecer como ela dominava a arte de pincelar meus sentimentos com uma mistura de cores brilhantes com as quais meus olhos demoravam a acostumar, mas se encantavam a cada novo risco compreendido.

Entendi depois que era também pra mim uma passagem só de ida. Só de ida a um mundo completamente novo e desconhecido. Na minha bagagem: roupas mais leves, coração mais leve e desapegado, um pouco mais de paciência e a fala mais branda, tipico de quem acaba de compreender uma lição.

Percebi enquanto fazia minhas malas, quantas coisas dela estou levando, quantos sentimentos bons, quantos sorrisos e quanto da minha maneira de ser ela influenciou. Tenho gostado muito de quem me tornei, mas ainda não sei ao certo se estou amando o que me tornei, ou se ainda estou amando a parte dela que ficou em mim, de qualquer forma, por hora os voôs estão esgotados, e viveremos por tempo indeterminado em cidades distintas.

Nas malas o que aprendi, no peito uma saudade que aperta e afrouxa.

Estou apreciando as cores daqui, agora vou aprender a desenhar.

Natasha Vitória, publicado em: http://taescrito.com/

Porque amor é liberdade

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Tenta pensar mais no presente, vai tomar banho? foca no banho!

Ta tomando banho? Pensa em coisas sobre o seu banho, qual a melhor maneira de tomar banho? pensa em coisas de banho. Ta respondendo email. Andando na rua? Foca na rua, nas pessoas, no simples caminhar. Presta atenção ao que está fazendo, sempre.

Assim a gente faz todas as coisas melhor e pensa menos no que não deve pensar, ja pensou nisso? Tive que prestar muita atenção pra pensar nisso.

Uma coisa que nós dois temos em comum é pensar mais nas pessoas do que nas ‘coisas’ e as pessoas que pensam mais nas ‘coisas’ tem mais coisas pra pensar e conseguem muito do que querem. Óbvio que com bom senso. Não estou dizendo para esquecer das pessoas, foda-se… Não! Mas pensar quando tiver que pensar e não criando hipóteses e circunstancias e “quem sabe isso”, “quem sabe aquilo” e se, e se…

Quando pensar nas pessoas, tenta pensar no melhor delas, mesmo se estiver chateado com elas ou numa situação difícil de se resolver. Existem muitas situações difíceis de se resolver que nós mesmo criamos, e as vezes sozinhos, dentro de nós, entende? Eu acho que você ta entendendo!

Todo mundo que você ama tem um lado que você é apaixonado, saiba usar os dois sentimentos com parcimônia, porque o amor exige também que consigamos abrir mão de sentimentos que nos geram maus comportamentos, ou pelo menos comportamentos que o outro se incomode.

Amar também é, e talvez principalmente seja, abrir mão de idéias antigas que já não deram certo outrora e não há porque insistir. Deixe que o outro te transforme no seu melhor. Estou pressupondo é claro um caso de reciprocidade plena. Difícil, mas real e possível, mesmo que não seja o mesmo tipo de amor, basta amar, cada um ama o máximo que pode do jeito que sabe. Respeita o jeito do outro de te amar.

Tome o controle sobre seus pensamentos. Deixar os pensamentos te dominarem é fácil, mas controlar o rumo dos próprios pensamentos é pra poucos.

A gente não deve ficar pensando em como será quando estiver com a pessoa, pensa na pessoa, em como ela é, como é o sorriso dela, como é o jeito, o olhar, como é a risada dela, como se movimenta…. Ficar pensando demais em como será quando estiverem juntos, é como ensaiar incessantemente um roteiro sem nunca estrear. Não deposite no outro suas expectativas, presta mais atenção na vida, e em cada gesto, quando estiver com o outro, aprecie a beleza de tudo que imaginou se concretizando, toda a leveza e beleza, o olhar e sorriso e gestos e a fala, seu olhar vai brilhar, e quem não sente sobre si quando um olhar brilha? Entende cara? Se entregar a ela é também sentir saudade durante o dia, é também fazer falta! Esqueça-a um pouco, para ama-la cada vez mais, a vida inteira.

Natasha Vitoria, publicado em: http://taescrito.com/