Novo Tempo

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Nenhuma queima de fogos promete um futuro iluminado. 

 Nenhum ponteiro marcando meia-noite transforma quereres em realidade.

 Nenhum ano novo garante uma nova vida.

 Se o coração deseja mudanças é preciso trocar mais que o calendário.

 É preciso abandonar medos e encarar desafios. 

 Driblar velhos hábitos e arriscar novos voos. 

 Deixar de esperar que os próximos meses surpreendam e surpreender a si mesmo. 

 Acreditar e seguir. 

 Sonhar e ousar. 

 Se o coração deseja um novo tempo é tempo de fazer acontecer.

Yohana Sanfer, publicado em: http://yosanfer.blogspot.com.br/

Declarando seus (d)efeitos

Faço festa quando ele me pega pela mão e rodopia meu corpo inteiro. Quando a nossa música, o seu olhar previsível e aquele sorriso ousado me tiram pra dançar.
Gosto quando me aconselha. Quando fala sério e quando me faz rir. Quando elogia o meu esmalte, a minha escrita e o cheiro do meu cabelo.

Derreto inteira quando mexe na minha boca, pega no meu rosto e fala baixinho  contrastando minha euforia. Quando desarma a minha guarda com a calmaria de quem sabe o que faz.   Mais do que sua mansidão, gosto de sua ousadia. De seu calor. De sua sede de mim. Gosto da sua barba rasa testando a paciência do meu pescoço e da sua mão inquieta rompendo as censuras instaladas por puro charme.

Não gosto quando arruma minha bagunça. Viro fera quando veste a implicância e dá de mexer no meu umbigo, nas minhas unhas e sobrancelhas. E quando abre as janelas reverenciando a luz quando meu corpo ainda pede mais preguiça e o aconchego que o escuro do quarto traz.

Adoro quando quase me convence de que está bravo quando mordo seu braço. E de como sorri me achando doida quando explico que faço isso porque sua pele tem cor e gosto de chocolate.

Morro de tédio quando sou a primeira a acordar e morro de amores quando seus beijos me despertam. Morro de raiva quando debocha do meu ciúme. Quando ignora meus dramas e quando acende seu cigarro. Morro de rir quando inventa músicas e histórias pra colorir minha noite. Quando dança pra mim e quando dança em público.

Sofro saudades quando os quatro travesseiros só abrigam o meu corpo na cama e dormências quando o teu corpo preenche o meu por madrugadas inteiras.

Sinto falta quando longe. Do abraço que me conduz a calmaria. Da piada que corta meus rompantes. Do colo que me acalma pra dormir. Colo que me ajeita, me desacelera, me retém. Colo que contém algum segredo que me faz querer saber: o que é que ele tem?

Não gosto quando vai. Com o olhar triste, com pressa, com briga e cheio de razão. Gosto quando vem. Com planos, novidades e vinho tinto. Com o humor que contagia um quarteirão. Com a fome inevitável dos amantes. Com sua presença singular.

Detesto quando emudece. Quando não cumpre horários. Quando demora pra explicar algo simples. E quando perco sua atenção para o noticiário de esportes na TV.

Amo quando me surpreende com convites e quando embarca em meus devaneios. Quando beija a minha fala, mergulha nos meus olhos e respira o meu perfume.
Amo amar e que me ame sem rodeios. No mais, vivo de narrar nós dois. Faço versos e juras infinitas com o sentir que ele me inspira, não durmo sem seu boa noite e um dia ainda enlouqueço com o bem e a arritmia que ele me dá.

Yohana Sanfer

Genuíno

Porque é preciso amar. Amar sem medidas, sem arestas, sem porquê.
Não esse amar vazio de sentido e de verdade. Amar de mostruário, pronto e fora de alcance. Mas um amar inevitável, extenso, sublime. Livre dos medos e preso na riqueza das pequenas coisas.

Amar de quem se pega sorrindo sozinha por não encontrar a resposta de tanto sentir gratuito.
Amar de graça, sim. Porque a maldade é cara demais.
Amar essa aquarela bonita que teima em se jogar na vida de quem acredita. Vida pintando subidas e descidas, tropeços e recomeços como se fôssemos sua tela mais reciclada. Arte  inacabada, pueril. Isenta de analogias.
Amar as tardes que chegam repletas de leveza. Como se pudessem nos tirar das costas os pesos acumulados desde o amanhecer.

Amar a noite finda que promete um dia novo, febril, pronto pra ser gasto com teu melhor sorriso e a gratidão bonita por fazer parte desse azul.
Amar sorrateiro que se instala como inspiração. Subordinado do correr das horas, dependente das minúcias para sobreviver.
Amar fincando passos e brilho de saudades. Como se fôssemos peças de souvenir.  Um amar obsoleto em tempos de brevidades.

Um amar bem-vindo. Que só se percebe quando transformado em sorriso, desses que dão novos traços a nossa feição.
Um amar que nos faça melhor só de habitá-lo por dentro, sublime. E que nos faça mais justos aos propagar suas notas.
Amar a passos largos, peito aberto, palavras escancaradas e faíscas na alma. Um amar que transborde.

Amar enfim, sabendo que o mundo tem gente cinza que nem fumaça, injustiças de todos os tamanhos e armadilhas por todos os lados. E que tem vozes e tem bandeiras. Tem força e resistência. Tem beleza nas trincheiras.
Um amar genuíno. Que justifique os compassos do coração e nos livre da covardia que é desistir de sonhar. Porque é preciso coragem.

Yohana Sanfer

Colorindo o calendário

Todos os dias de sábado deveriam iniciar com o sol mansinho visitando nossa janela. O descortinar ajudado pela brisa, a preguiça indo embora devagar. O acordar aos sábados deveria conter aroma de baunilha, cheiro de bolo quentinho, de flor recém nascida.

Fica decretado que está terminantemente proibido acordar aos sábados com o despertar histérico do relógio ou da música ruim do vizinho. Deixemos as obrigações e chatices para as segundas-feira tediosas. O frenesi para as sextas. A preguiça para os domingos.

 Sábado é pra ser gasto, usado e abusado naturalmente. Com música e livro bom. Consigo ou com companhia. Deve ser colorido, esperado, bonito. Deve refletir arco-íris e plantar ideias novas na mente e nos corações.

 Sábado nublado não deveria existir. O céu carregado pode ficar para as terças? Sábado tem de ser alegre.Ser rua cheia de bicicletas, sorvete lambuzando o rosto, pôr do sol visto de cima de uma pedra alta. Ser fotografia, algodão-doce, pipoca na praça e bolinhas de sabão.

Também por isso, deveria ser proibido chover aos sábados. Exceto para que as crianças brincassem  nas poças d’água, para os banhos de chuva enfeitados de sorrisos e braços abertos ou para beijos de cinema que ignoram o cenário.

Sábado com frio somente seria permitido para abraços demorados e aconchego. Para vinho tinto, chocolate quente e edredom sem solidão.

Tudo bem. Não vamos ignorar que os problemas não dão intervalo, que as injustiças não respeitam o calendário, que os contratempos não dão aviso prévio. Mas vamos torcer para que dias cinzas aconteçam de segunda à quinta, pode ser? E todos os pormenores, pesos e pressões. Aos sábados, não.

Todos os sábados deveriam começar com um sorriso ingênuo. Desses com o poder bonito de inspirar as horas, romper com a tristeza e fazer – sem brecha pra inconveniência dos percalços – um final de semana, no mínimo, feliz. Com direito à fim de tarde com gosto de alecrim, prosa de amigo e paparicos de avó.

Sábados com música e poesia pra prender a vida num cenário bonito sem abobar nossa capacidade de enxergar dias feios e poder transformá-los. Sem nos tirar a vontade de realizar e brigar pelos nossos sonhos.

Um dia. Um só dia ao menos pra abstrair da rotina que nos ronda, blindar nossa força e calibrar nossa coragem de ser feliz em todos os outros. Comecemos por hoje?

Yohana Sanfer