Com você ainda na cama, observo teu sono tranquilo, acendo um cigarro e penso em todas as voltas que dei até chegar aqui. Foram tempestades internas, chuvas que quase me afogaram, mas no final lavaram a alma. Meu porto de paz. Atraquei meu barquinho furado e deixei esse teu mar calmo me puxar para si. Calmo. Certo. É engraçado pensar como sempre foi assim com você.Tem tanto afeto que não me cabe mais medo, aquela insegurança que eu tanto cultivei nem sei por qual caminho se perdeu. Vejo teu peito subindo e descendo, te vejo respirando, vivendo, existindo, transbordo gratidão. Acho mesmo que você me tirou daquela novela mexicana e me trouxe para essa história novinha, com cara de só nossa, sem nenhum cavalo branco, mas bem que você merece a capa. Me salvou de mim mesma, da solidão, do gelo de um coração fechado, blindado, tumultuado e ferido. Você abre o olho para a luz e sorri. Meu coração dá um salto, você é o abismo, mergulho no teu ser.
“—Vem, a cama é uma cama melhor com você” eu sorrio e vou.
E aconchegada no teu abraço me sinto respirar como se a vida tivesse começado agora. Como se eu tivesse reconhecido em você aquilo tudo que tanto procurei. Toda a calma que ninguém me deu. Toda a coragem que me faltou. A força. A vida. É como respirar depois de muito tempo. Inspira. Expira. Vive. Ama.
Karoline Amorim, publicado em: https://catarsese.wordpress.com/