Oitavo pecado capital

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Olha, eu poderia, talvez até devesse. Talvez seja o que se espera de alguém minimamente inteligente ou equilibrado. Mas eu não vou ficar aqui posando de mulher segura e bem resolvida. Não mesmo. Já me despi dessa vaidade.

Não, eu não sou serena. Não, eu não sou compreensiva, nem superior. Não, eu não vou fingir que não sinto. Não precisa me admirar.

Chamam-me de ciumenta. E é isso. Assim, pequena e limitada. Louca. Paranóica. Obsessiva. Casmurra.

Eu me mordo, eu me rasgo, eu me acabo, eu falo bobagem, eu faço bobagem, eu dou vexame, eu faço, eu sigo, eu faço cenas de amor. Eu e aquele carinha do Ultrage a Rigor. Ele, sim, me entende.

Nasci com essa falha. Não sei dividir, nem emprestar. Nada. Egoísmo que não se estanca.

Meu carro, meu cachorro, meus amigos, minha escova de dentes, meu homem. Meu. Meu. Meu.

Eu também não vou fingir que me envergonho ou que não gosto de ser assim. Não reluto, eu sou. Ciúme não é defeito. Nem qualidade. É característica.

Já quebrei bar, já bati o carro, bati na cara, chorei na sarjeta. Explodi por dentro e pra fora. Morri mais de mil vezes.

Gosto de pensar que ciúme é coisa que quem não sabe sentir pouco. Porque eu gosto é de gente exagerada. Que ri alto, que não passa desapercebida, que não penteia direito os cabelos, que come com as mãos e se lambuza. Gente que dá vexame, que sente aquela sede que nunca sacia.

Turbilhão.

Gosto de pensar que ciúme é o amor um pouco alem do amor. É a vontade de devorar alguém inteiro e dedicar os dias a digerir essa pessoa. É aspirar alguém e morrer em apneia com o sujeito preso em seus pulmões.

E lá no fundo, no fundo, gosto de sofrer. Sou uma novela mexicana da mais vagabundas. Daquelas que se chora e não se enxuga as lágrimas pretas de rímel, justamente para exibi-las com orgulho, pelejantes. Que se vê no espelho e se acha mais bonita com o olhar triste. Sofrer também me faz sentir viva.

Não, eu não to tem um pouco a fim de levar uma vida moderrrrninha. Nem de deixar minha menininha sair sozinha. Isso fica pra vocês, que sonham com vidas de comercial de margarina.

Isso não me serve, nem me basta.

Érica Suzumura