Relativizando distâncias

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Tem o Sol.
Este que é um só, e por dar conta do recado, acha que o(s) mundo(s) gira(m) em torno do seu umbigo.
– E giram, Sol.
Eu estava olhando pra Ele hoje de manhã enquanto alguém, sei lá, no Uzbequistão, olhava também.
O sol que me queimou, aqueceu bem mais além, o corpo de alguém.
O sol que acordou aqui, foi dormir pras bandas de lá.
No outro dia chegou apressado antes do leite de alguém atrasado, esquentar. Foi embora de surpresa, antes do leito esfriar.
E assim estamos nós. Atados por esses nós de vida que há em tudo, em todos, embaixo do Sol.

O vento. Este que se espalha confortável em todos os lugares, inclusive, naqueles em que o sol não brilha.
O vento que soprou trouxe pó da rua de trás, depois voltou levando na brisa o meu perfume até alguém, que sentiu e se perguntou da onde conhecia aquele cheiro familiar.

Hoje, quantos casais fizeram amor ao mesmo tempo?
Quantos suspiros de tristeza e choros de agonia coincidiram dolorosamente?
Hoje, de quantas formas nos conectamos?
E assim, ao longo do dia fomos nos ligando, alcançando, como se alguns de nós dormissem na mesma cama e acordassem juntos pra preparar o café.
Enquanto uns jantavam, outros colocavam o despertador pra mais 5 minutos. E no fim ninguém estava só debaixo do mesmo céu.
Hoje eu continuei a viver o que já passou por alguém e deixei um pouco de mim, pra quem vem.
Nós não temos ideia de quantas saudades nós matamos, hoje. Foi um massacre.

E assim, ainda que longes um do outro, seguimos juntos procurando nas ausências um calor de sol, um sopro de vento, uma sincronia de sentimentos.
Só pra ver se esquenta.
Pra ver se lembra.
Pra gente se ver.

Kamila Valente, postado em: http://ogostodaletra.blogspot.com.br/

O que a gente é

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A gente se olha no espelho, vira de bunda e confere a situação da celulite, que aliás, vai sempre muito bem essa safada.
A gente deseja o carro novo e foda que o amigo comprou.
A gente olha as fotos do casamento e já se imagina lá na igreja, toda de branco, decide o que teria de lindo e o que não teria de brega na nossa festa.
Assalta a geladeira e forja a dieta quando não tem ninguém olhando.
Mente que está mantendo o ritmo na academia pra quem se envolveu no tal do projeto verão (e está na torcida pela gente), não se decepcionar.

A gente é bom.
Sente dó cachorrinho magrelo que todo dia está na esquina de casa, implorando um pão e carinho.
No sinal, dá moedas pro argentino sujinho (porém gato) que faz malabares.
Faz doação, se envolve em causas sociais, sai pra rua pra protestar por um amontoado de não-sei-o-quê, avisa que a colega saiu do banheiro da balada com o papel grudado no sapato.

A gente é ruim.
Finge que não vê o idoso entrar no ônibus, já que tem gente mais nova sentada e nem se mexe pra ceder o assento.
Faz que não viu aquele vizinho chato, só pra não interagir.
Visualiza e não responde.
Manda indireta.
Deseja que ele fique impotente e que ela engorde.

A gente é isso tudo e se suja todo dia na lama da humanidade.
Baba a saliva dos imperfeitos, feitos de carne, ossos e sentimento.
A gente é essa máquina antiga que ninguém quer trocar, porque tem apego.
Ainda não inventaram nenhuma evolução da gente, porque a gente é o que há de mais evoluído no melhor e no pior.
Nenhuma se espécie se supera tanto, todo dia, em cagar com tudo e aparecer com um choro na garganta pedindo perdão. Ainda bem que a gente muda de ideia toda hora e Deus se faz de surdo e ri da gente. Ainda bem que a gente é gente.

Kamila Valente, publicado em: http://ogostodaletra.blogspot.com.br/

a gente é bobo, às vezes

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Tô montando um castelinho torto, humilde, pedrinha por pedrinha, mas que me cabe dentro.
Vez ou outra alguém derruba metade do meu trabalho suado e assim me arranca duas ou três lágrimas, mas o número de gente que coloca a mão na massa comigo, tem aumentado um tanto.
Agora a casa tem meu tamanho, meu jeito, a cor da parede que eu mesma pintei e eu coloco nela, quem eu quero e fica quem quer. É tudo meu. O caminho, a casa, a vida, os pincéis.

Parece meio autoajuda, mas é não.
É só pra mostrar o quanto a gente é bobo, às vezes, por ficar em stand by.

 

Kamila Valente

Sobre ser mulher, solteira, aos 30 (e poucos), em 2015.

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Fiquei pensando, durante muito tempo, se eu tinha coragem suficiente pra escrever sobre isso e de tanto pensar sem achar resposta,  escrevi, por motivos de: não sou obrigada a nada.
E resolvi porque, depois de jogar muita conversa fora com amigas, colegas, conhecidas que ocupam a faixa dos 30 anos, eu percebi a barra que é estar sozinha nessa altura da vida.
Não vou falar de dramas pessoais como carências, frustrações e muito menos sobre como conquistar o homem amado em 10 passos.
Eu escrevo em nome das mulheres felizes com suas escolhas.
Essa mulher encara o olhar descrente da família, atura o preconceito social que dita a regrinha do “se tá solteira é porque algum defeito tem” e percorre a via crucis  da vergonha alheia carregando o peso de uma frustração que não lhe pertence. Todo churrasco de família  é a tia perguntando do namoradinho e todo lance é o cara fugindo porque projeta nela “aloka” do casamento, quando tudo que se quer é almoçar a picanha do tio em paz e dormir de conchinha por uma noite.
Essa mulher é vista sob olhares piedosos quando a encontram trilhando sozinha alguns caminhos, e sob ira da moral e dos bons costumes quando exerce com propriedade a sua solteirice ( e tudo que de mais legal ela carrega). A colocam no paredão pra ser metralhada, mandam a conta da bala pra família que se vinga nela, completando assim esse ciclo de cobranças e imposições sem sentido.
Ou seja, leva a fama de encalhada, sem ao menos, poder deitar na cama.
Que dureza.
A essa mulher está reservado apenas o ônus da vida de solteira. “Ela não pode ter escolhido estar assim”, dizem os inconformados. Como conceber uma mulher que não quer casar quando está em vias de ficar estéril, enrugar e passar do ponto? A hora é agora, minha filha!
Case, procrie,  protele sua carreira enquanto os homens da sua idade fazem intercâmbio em Paris.
Rodam o mundo num mochilão.
Você não, você precisa de alguém. Você é um anexo.
Você não pode desejar alguém (ou alguéns) por uma noite. Você está fadada a um comercial de margarina, com prazo de validade.
Você não pode escolher muito, quem escolhe muito acaba sozinha. Você não pode tentar muitas vezes, você é muito seletiva.
Algum defeito você tem.
E se talvez o problema não for com ela? E se talvez só apareceu cara “rodado” pra ela? Qual artigo de lei incrimina essa mulher por se achar boa o suficiente pra não querer ninguém?
Parem com isso. Nos deixem ser mulheres, nos deixem externar nossas vontades que as vezes são tão fortes e pouco nobres quanto a de vocês, homens.
Parem de justificar essa concessão alegando a porta do carro que vocês abrem e o jantar que pagam.
Essas atitudes respaldam a nossa vontade de passar na casa de vocês e levá-los pra jantar, sabiam?
Não estabeleçam regras, esse jogo não é de vocês.
Não usem argumentos rasos que contenham as palavras-chave: Recalque, solteirona e puta.
Tá batido, vocês são maiores, melhores que isso. E é por isso qua ainda somos heterossexuais. Por gostarmos tanto dessa figura que vocês representam, ainda que muitas vezes, idealmente.
Permitam que as convictas mudem de ideia um dia (quando elas quiserem) e queiram alguém pra dividir os dias, pra sempre.

E, por favor, não façam as apaixonadas mudarem de lado. O amor é mesmo lindo quando alguém o deseja.

Kamila V., publicado em: http://ogostodaletra.blogspot.com.br/

Sobre um dia pra nós

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Eu fiquei esperando o relógio bater a meia-noite pra apertar o “enviar” daquele sms que estava ali no bloco de notas há mais ou menos 1 mês, esperando pra apitar na tua caixa de entrada. Foi. Quer dizer, não foi.

Essa mania costumeira da telefonia móvel em boicotar a gente fez eu rodar a casa procurando um lugar onde as barrinhas simpáticas da rede se sentissem confortáveis a aparecer no visor do meu telefone celular. Tentei te ligar. Reenviar. Nada.

Corri pro computador e lá dei um ctrlc + ctrl v naquele poema que eu te fiz. Internet só discava. Nada. Poxa.

Cansada de rodar a casa, lembrei de como cansava não te ter por perto. Debrucei no parapeito da janela, numa última tentativa e vi naquele restaurante charmosinho do outro lado da avenida um casal comemorando o seu doze de junho.

Eles estavam sentados frente a frente, bem vestidos, uma taça de vinho daquelas grandes em cada lado e nas mãos: Um telefone celular. Pareciam estar enrolados nas redes das redes sociais enquanto dessocializavam o amor.

Talvez aquele fosse só mais um jantar a dois. Talvez fosse o segundo, terceiro naquela semana. Talvez ele sempre a buscasse na faculdade. Almoçassem juntos todos os dias. Talvez ele mastigasse a comida de um jeito irritante pra ela e talvez ela insistisse naquela blusa rosa que ele odeia. Talvez a rotina de estar perto, tivesse distanciado os dois. Poxa.

Eu tô aqui subindo nas cadeiras, me equilibrando no parapeito dessa janela pra ver se te encontro nessa web ingrata. Tô aqui querendo teu riso, querendo ver tu mastigar uma besteira qualquer, querendo que tu me esperes no portão da faculdade, almoçar contigo e usar aquela blusa rosa que te faz rir da minha cara.

Tô aqui querendo usar as taças grandes de vinho que eu comprei, enquanto essa gente louca não sabe se querer.

Daqui da minha janela eu vejo um perto que é mais longe que a distância que separam nossas casas. E como é fácil amar nossa distância, agora!

Como eu amo teu bom dia, todo dia. Tuas cartas, cartões, ligações inesperadas e as coisas que tu deixa largadas pelo chão da minha casa. Pelas flores que tu largas no chão da minha vida. Como eu amo esbarrar em ti toda vez que eu vou pro banho e vejo tua foto no mural. É como se a gente vivesse num mapa de escala reduzida e num passo eu estivesse no teu abraço. Que Deus nos livre da maldição de estar tão perto à ponto de estar tão longe.

Que possamos ter sempre um dia pra nós, todo dia.

Kamila V., publicado em http://ogostodaletra.blogspot.com.br/

A gente não se basta

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Eu estava certa de ter aprendido a enlatar meus sentimentos.

Um em cada gavetinha, no seu respectivo cantinho no coração, tirando de lá, quando quisesse.

Pensei que me mandava e caminhei orgulhosa de, no auge dos meus 20 e poucos, estar no controle da situação.

Mas, não. Felizmente a essência não muda com o tempo, não na maneira como a gente gosta das coisas e pessoas.

Não é porque o peito ficou um tempo sem suspirar que você enfodeceu, que aprendeu a matar no tal do peito.

Não.

O fato de ter ficado um tempo aí nessa pista, pra negócio, postando mil frases de amor-próprio nos perfis nas redes sociais e bancando a auto-suficiente, não quer dizer MESMO, que você aprendeu a se bastar.

Não, a gente não se basta.

Não me basto desde que dei de cara com esse sorriso rasga a tua.

Desde que me apaixonei pela coreografia (sem ensaio, porém, sincronizada) do teu olhinho fechar enquanto a boca abre em riso, em beijo.

Desde que fui pega nesse abraço que me leva pra tudo que é canto, tipo brinquedo que criança arrasta pela casa.

Desde que você abriu os braços e fez um país pra eu morar, como naquela música.

A gente não se basta quando finalmente não se sente constrangido em calar e quer morar no silêncio confortável do outro.

Naquele silêncio que não deixa sem graça e não obriga a procurar um assunto.

Que não transforma aquelas horas de congestionamento na volta da praia, num terrível elevador de conversa boba, mas, num momento feliz de se olhar e só.

Desde que você chegou, não é bom ser sozinha e são essas coisas que fazem a gente descobrir que amadurecer não é, necessariamente, endurecer.

Kamila Valente

Histórinha do amor fácil

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Era apenas uma mania doce que ele tinha de simplificar as equações. Equações? Talvez ele nem fosse tão a fundo assim, no mundo. O mundo era lindo. E belo. E leve. E sem pecado.

Eu ficava tentando entender se aquela doçura era a pureza de nunca ter se contaminado com o amargo da vida (e vejam só que perigo…alguém com tanto potencial, contrair o vírus do gosto amargo que eu carregava) ou,  era só inexperiência mesmo.

Mas não. Ele bancava as coisas com uma certeza adulta, própria de quem já viveu muitos pesadelos e aprendeu a acordar na hora certa. Pra ele a vida era isso mesmo, esse imenso verde-grama de terra fértil pronta pra ser cultivada. E por mais que eu regasse as daninhas, vinha ele logo atrás, arrancando todo matinho feio, colorindo de flor e cagando meu trabalho sujo.

Era como se ele batesse no peito e dissesse”deixa pra mim”. E eu deixava. Até porque eu não sabia o que fazer com tanta verdade. Eu não conseguia segurar com minhas mãos pequenas, tanta bagagem.
Não por ser pesada, mas, por ser muita.

E quanto mais dura eu ficava, mais facilmente me quebrava. Como naquela conversa em que divagamos sobre o que seria, de fato, o amor e eu disse que amor era pra sempre, e por isso, não tinha como saber o que era. Aí ele sugeriu que a gente ficasse perto pra sempre, porque então, seria fácil de descobrir.

Parecia fácil viver do jeitinho dele. Parecia fácil ser ele. E vejam só, parecia ser fácil gostar de mim, agora. Essa historinha clichê de que o bem é mais forte que o mal, criou vida e saiu do papel. Já que eu não consegui amargurá-lo, ele então, conseguiu me fazer feliz.

Kamila Valente

Era uma vez

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Queria te dizer que no início eu fiquei preocupada com a temperatura.

Tava gelado demais, cor azul-necrotério.

Parecia qualquer coisa sem vida, sem força. E eu bati, injetei adrenalina e nada do coração bater de novo.

Fiquei pensando se não era culpa das lascas que a gente tinha arrancado dele com precisão cirúrgica, nos últimos tempos.

Pensei no dia em que descobri que meu primeiro amor tinha arrancado uma florzinha do jardim lá da escola e dado a outra menina, no dia que meus pais se separaram e no dia que eu achei revista de mulher pelada na tua pasta de couro.

Pensei se não era porque tinha chegado a hora de parar de pulsar mesmo, se não era dos anos, se de repente não era isso mesmo, do coração parar de acelerar. Mas de tanto pensar, eu vi que não era nada disso.

Era só a tua parte nele que tinha infartado.

Por isso eu vim te dizer que a tua primeira prateleira está vazia, porque, se já não cabemos mais um no sonho do outro, a minha roupa não pode caber no teu armário, aliás, sempre quis te dizer que esse espaço que você separou pra mim era ridículo. Na vida, no roupeiro e no coração.

Na geladeira tem a cerveja toda daquele engradado, geladinha.

Sim, porque eu também vim dizer que não vai ter mais eu vestindo tuas camisetas e arrastando minhas meias 3/4 até a cozinha, depois da aposta que eu sempre perco, tendo que trazer tua bebida.

Vim te dizer que eu cansei desse amor intercalado com ódio.

E eu tô tentando alimentar raiva tua do início da playlist, só até chegar o Tom, com Chega de Saudade, te perdoando toda vez, com Samba da Volta no repeat.

A gente não se reconhece mais, e eu não atendo ligações, não aceito doces, nem divido histórias com estranhos.

Então, como naquele dia que você não teve coragem de me proteger do cara que meteu a mão na minha coxa, tendo euzinha que meter a minha mão na cara dele, eu tô aqui de novo.

Fazendo o serviço sujo de encerrar esse nosso…não sei o nome.

Bom, quero avisar que só tô levando o que eu trouxe. Roupas, vaso com flor, alegria e vida.

Mas tem cerveja na geladeira e a internet tá paga.

Divirta-se campeão!

Kamila Valente

No fim a gente morre

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Não consigo ver culpa em uma coisa só. Acho que foi tudo.

Foi um pouco de guerra entre os continentes. Foi o último bombom da tua caixa que eu roubei. Foi o troco a menos que me deram. Foi o troco a mais que alguém consentiu. Foi aquela verba que desviaram. Foi o tapa na cara.

Aquela câmara de gás. O estupro. O abuso.

Foi aquele ônibus incendiado.

A sacola pesada no braço, que geral fez que não viu.  A mulher grávida em pé no ônibus. A mensagem no celular. A enrolação. A maldade.

Foi por tudo isso, talvez, que a gente desaprendeu a crer.

Foi aí no meio desse caminho escuro que a gente perdeu a hora do encontro lindo com a gentileza.

A confiança no amor.

E isso virou um ciclo.

A gente caiu numa errada e agora é cada um por si e Deus…bom, tem que ter muita coragem pra acreditar nele também.

Porque parece que ficou tão longe o céu da terra, que do nosso teto as preces não passam mais.

É como se uma nuvem espessa cobrisse tudo, todos, a ponto da graça não alcançar mais a gente.

As gentes.

E se alguém tenta colorir, com um gestinho que seja, esse mundo cinza, instala-se o espanto.

É  como se houvesse uma mãe gritando alto pra gente não aceitar doce de ninguém.

Eu pequei, errei muito.

Tentei adoçar uns azedumes, doar minhas mãos, cuidar dos tesouros que me entregaram, mas me disseram que precisavam ir, porque eu levava jeito pra coisa e ninguém é tão bom assim hoje em dia.

Percebendo que eu tinha sede de beber sonhos de canudinho pra engolir realizações, só me contaram pesadelos, pra que assim eu caísse na real. No mundo real.

Algumas pessoas teimam todos os dias em entregar seus corações, em doar a parte mais bonita de si.

Uma teimosia infantil que têm partido almas, porque em contrapartida, outras almas não são evoluídas o suficiente para digerir doçuras.

Se assustaram quando  eu pedi pra acreditarem que a vida é boa, e isso, já cantado com beleza pelos Novos Baianos, nunca fez tanto sentido.

Já perdemos o controle, mudamos o ditado pro mal sempre vencer.

Ser ruim, engrossar, estupidar, ta na moda. E quem não tem o poder de transformar o coração em pedra barata, fica aí pelos cantos lamentando as pérolas que já viraram colares nos pescoços dos porcos.

E assim a gente vai, devagarinho, sofrendo um tanto, depois um pouco menos, secando uma lágrima aqui, outra ali, até que tudo fique seco como um deserto e a gente possa viver em guerra, alcançando enfim, nosso objetivo que é o fim.

Kamila Valente