Eles já sabiam

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Algumas pessoas têm isso. De alguma maneira elas sentem quando – mesmo sem nenhuma indicação palpável – aquele pessoa vai acabar nos seus braços, cedo ou tarde. E naquela noite ambos sentiram isso. Não houve nenhum toque mais íntimo, nem um abraço sequer. Não houve palavras ao pé do ouvido, não houve dança juntos nem beijinho no canto da boca. Eles simplesmente sabiam. Só houve alguns poucos olhares. Que foram o suficiente, afinal, eles já sabiam mesmo. Mas nesse dia, algumas intempéries evitaram que aquele fosse o dia. Os olhares continuaram até ele ir embora, antes dela. E eles se despediram sem medo, sem pressa, sem arrependimento, afinal, eles sabiam.

Alguns dias depois se falaram pela Internet. Em poucos minutos um descobriu que o outro também sabia. E assim, pela Internet, sem nem se ver, eles já sabiam – e dessa vez até combinaram – que seriam um do outro. Nesse mesmo dia ele saiu com as amigas dela. Amigas em comum. Ele insistiu para que ela fosse, mas uma forte tosse parecia querer adiar de qualquer maneira o encontro. E ela não foi. Ele foi, e trocou mensagens com ela a noite toda. Mensagens melosas, já em tom de namoro. Mas ainda nem sequer tinham se beijado. Só haviam se encontrado duas vezes, em duas boates. Poderia ser até que nem se reconhecessem durante o dia. Mas isso não importava, eles sabiam.

Se falaram longamente também no dia seguinte – ainda impedidos de ser ver, menos por causa da tosse do que pela vaidade dela em não deixá-lo vê-la daquele jeito. Conversaram ao telefone, na Internet, mensagens. Não que ainda precisassem de mais palavras, mas se ele falavam e se falavam. Na segunda feira, enfim, se encontraram. Na casa dela. Se encontraram, conversaram banalidades e essas coisas. Não tinham pressa, eles sabiam. Num momento desses meio transcendentais que a gente nunca admite que acontece, ela, de repente, parou o que fazia e o fitou. Ele a olhava. E, sem dizer mais uma palavra, se beijaram. E esse ato se repetiu, com apenas um dia de ausência, durante vinte e dois dias. Sete dias depois estavam namorando, e hoje, parece que estão juntos há anos. Um é tudo o que o outro precisava. Houve contratempos, claro. Algumas coisas no passado dela se fizeram de difícil digestão pelo machismo retrógrado, conservador e orgulhoso dele. Da parte dela, foi difícil, depois de uma desilusão das piores, admitir que havia novamente encontrado o amor. Ou sido encontrada por ele.

Mas ele mandou o machismo às favas, e ela – me desculpem o termo, mas não há outro mais apropriado – mandou a prudência e o receio para a puta que pariu. E ficaram juntos. E estão até agora. E, pelo jeito que a coisa vai, passando por cima de todas as pedras no caminho, pedras essas que não foram poucas. Mas eles passaram por elas, e, há poucos minutos atrás, namoravam feito adolescentes e agora, alguns instantes depois, já estão morrendo de saudades, falando no diminutivo e que nem criança. Mas tudo isso só serviu pra confirmar o que, repetindo o motim desse texto, eles já sabiam desde o início.

 

Leo Luz, publicado em: http://amorcronico.com.br/

 

Nem todo amor precisa ser gritado

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Depois de dez namoradas e mais algumas quase paixões, o ineditismo se torna uma utopia. Narizes finos e grossos, lábios carnudos ou não, cabelos loiros, morenos, ruivos, negros, altas e baixas, brancas, morenas, falantes, tímidas, que escreviam, que cantavam, que dançavam, carinhosas, acanhadas, seguras, inseguras. A não ser que eu me apaixone por uma mulher de dois metros de altura ou com três seios (nunca tive esta sorte), é pouco provável que haja o ineditismo em relação à pessoa. Em relação à pessoa não, mas e em relação aos sentimentos? Pois é, eu também achava que não dava.

Eu sou Vinicius. Eu sou Drummond. Eu ou George Harrison. A minha maneira de amar grita, sofre, rasteja, minha maneira de amar é entrega total, é pular do precipício sem saber se tem água lá embaixo, é falar e esperar ouvir a cada cinco minutos que ama, que ama, que ama. E eu sempre amei e sempre fui amado assim. E sempre achei qualquer coisa além deste amor tão utópico quando uma namorada de (eu não teria tanta sorte) três seios. Até que você chegou e, em algumas semanas, jogou por terra tudo o que eu achei que tivesse aprendido em trinta e cinco anos.

Eu ainda não me acostumei muito, na verdade, com esse seu amor tão altruísta que parece nem se importar, mas que, ao contrário, se importa tanto que não cobra nada. Nem atenção. Nem recíproca. Nem amor. Às vezes eu gostaria que você me pedisse para dizer que te amo, ou que me perguntasse se eu ainda te amo. Eu admito que, mesmo quando você ainda era apaixonada por mim, às vezes eu esperava que você me cobrasse amor, me cobrasse paixão. E nada. Nadica. Nem uma pontinha. Parecia o amor que a gente tem por um bicho: a gente ama mesmo se ele morder a gente. E ele morde. E a gente ama. E você me ama.

Engraçado, pra mim sempre foi tão importante ouvir “eu te amo”. Sempre foi uma quebra de barreira, um marco, um rompimento entre a paixonite e o amor de verdade. Com você, não. Você me ama e fala isso, e não é da maneira que eu amo, que eu amava, da maneira que, no fundo, no fundo, ia me fazer tremer as pernas fosse desse jeito. Mas mesmo do seu jeito, você me ama muito mais do que qualquer pessoa já me amou. Você não me ama por você, você me ama por mim. Pra mim ainda é estranho, às vezes eu me sinto inseguro. Às vezes eu pensava: “será que ela não está mais apaixonada?”, mas você estava, e dizia isso dez minutos depois. Porque o seu amor não dá segurança, não dá esperança, não dá certeza. Mas dá a coisa mais importante e que, mesmo parecendo simples e previsível, muitos amores não dão: amor.

Leo Luz, publicado em: https://www.facebook.com/paginadoleoluz/?fref=ts

Não namore alguém que…

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Não namore alguém que começou a namorar você porque “ah, rolou, né?” – nem alguém com quem você tenha começado a namorar por este motivo. Não namore alguém que começou a namorar com você por nenhum motivo menos do que estar perdida e estupidamente apaixonado, escrevendo seu nome no vidro embaçado do box na hora do banho o tempo todo ou abrindo o whatsapp só pra ver se você tá online. Não namore, sob hipótese nenhuma, alguém que demora mais de dois segundos para responder “sim” quando perguntam: “Você tem namorado/namorada?”. Não namore alguém que faz colagens de textos de internet e manda pra você como se fosse dele. É mais honesto mandar um pagode do que copiar os sentimentos alheios.

Não namore – e depois não diga que eu avisei – alguém com mais de vinte e um anos que tenha pôster de algum dos filmes/bandas a seguir: Harry Potter, Backstreet Boys, Xuxa e Los Hermanos. São pessoas perigosíssimas. Ah, e se forem pôsteres de Conta Comigo, os Goonnies, Bon Jovi, Emmanuelle e Os Muppets, tá liberado. Não namore alguém que pede pra você pentear melhor o cabelo ou usar uma roupa desamarrotada quando for conhecer os amigos ou a família. Não namore também alguém que não goste de três das nove coisas a seguir: Woody Allen, Star Wars, Futebol, Bon Jovi, Beatles, beber água direto da torneira, ler, cães ou gatos e ouvir conversa dos outros na mesa ao lado.

Não namore, nem sob a mira de uma arma apontada pelo Clint Eastwood, alguém que julgue as coisas que você gosta como “bobo” ou “idiota”. A não ser que você goste de Harry Potter, aí é bobo mesmo. Não namore, sob pena de tédio eterno, alguém com quem você não tenha intimidade para fazer duas das quatro perguntas a seguir: “Voar ou invisibilidade?”, “Marvel ou DC?”, “Se você pudesse ir para qualquer lugar do universo, você preferiria ver o nascimento de uma estrela ou um buraco negro”?, ou “se homicídio não fosse crime, e a nossa sociedade não encarasse a morte como algo ruim, você teria coragem de matar alguém?”. Ah, experiência própria, também não namore alguém que responda “sim” para esta última pergunta. Importantíssimo: não namore alguém que se gaba de defeitos e desqualifica qualidades. “Você é honesto demais”, “ah, eu sou grosso assim mesmo, é meu jeito”. Uma coisa é se aceitar como é, outra coisa é esperar que o mundo se molde a você.

Mas o melhor conselho que eu posso dar é: namore quem você quiser.

Mas depois não diga que eu não avisei.

 

Léo Luz – Você pode acompanhar mais textos no: https://www.facebook.com/paginadoleoluz?fref=ts ou pelo site: http://leonardoluz.com.br/

Namora comigo?

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Quer namorar comigo? Namorar de verdade. Todo mundo vai saber. Todo mundo vai ver. Namorar de verdade. Ir no cinema de mão dada, ajudar a sogra a fazer as compras no mercado, pedir pra você ir lá em casa botar água e comida pros gatos quando eu estiver em São Paulo. Namorar de verdade. Mandar bilhetinho, carta, flor, telegrama, mandar beijo por foto, tudo de mais ridículo publicamente que um namoro tem. Namorar das pessoas não aguentarem mais de tanto que eu falaria em você. Quer?

Eu prometo rir pras suas milhões de fotos com a Polaroid, prometo não ficar irritado quando você não conseguir me dar instruções simples de como chegar em um lugar. Prometo nunca mais pedir pra ler suas coisas antigas, nem reclamar que você sempre bate a cabeça na porta do carro antes de sair, nem que você nunca consegue decidir onde a gente vai comer – e quando eu decido não tem nada pra você comer lá, porque lugar nenhum tem nada para um vegetariano comer. Prometo não te ligar de manhã cedo, não ficar mandando você não usar o celular dentro do ônibus nem reclamar que você tá se arrumando há uma hora e meia – e ainda nem tomou banho.

Namora comigo? Faz coisas idiotas de namorados comigo, como entrar juntos na cabine de foto, sair correndo no meio da rua e se abraçar ou ligar pro seu trabalho e pedir pra falar com você só pra falar que eu te amo. Quer namorar comigo? Namorar de já escolher nome dos filhos, raça dos cachorros, se eles vão ser Fluminense ou Botafogo (tem maluco pra tudo). Namorar de querer saber das vergonhas de adolescente, de jogar videogame com o irmão e de botar a sua foto como papel de parede do meu celular, e acabar com a bateria dele quando eu tiver com saudade só de ficar olhando pra você.

Eu prometo que a gente vai ser como a gente queria ser lá atrás, nos cafés da manhã no posto de gasolina. Prometo que vai ser tudo exatamente como a gente planejava, timtim por timtim. Eu prometo que faço massagem, mexo no seu cabelo e faço carinho quando você tiver com sono. Eu prometo que vou ser uma pessoa diferente, que vou ser a pessoa que você merece que eu seja, que você merece ter ao seu lado. Prometo que não vou mais cometer os erros que eu já cometi – e que você já me perdoou inúmeras vezes. Prometo que vou fazer você se sentir a mulher mais amada do mundo.

Namora comigo?

Léo Luz, publicado em: http://www.entendaoshomens.com.br/

Mulherões e mulherzinhas

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Dentre as mais criativas denominações nas quais as mulheres são enquadradas, as duas que acho mais fiéis à realidade são a do “Mulherão” e a da “Mulherzinha”. Que daqui por diante serão utilizadas sem aspas, por que dá um trabalhão danado. Ao contrário do que pode dar a entender a terminologia, as duas classificações nada têm a ver com beleza, tipo físico ou inteligência. E que fique claro, a utilização do aumentativo e do diminutivo não expressa superioridade de um tipo em detrimento do outro nem nada disso. É meramente ilustrativo.

E eu vou explicar. O Mulherão – com maiúscula mesmo- é, sem dúvidas, um mulherão. Independente de sua beleza, ela usa decotes, saias curtas, pulseiras, anéis e afins, perfumes sensuais, cortes de cabelo “fashion”, essas coisas. Se você um dia estiver andando na rua, e de repente ouvir assovios, supiros e coisas do tipo “aimeudeusdocéu”, “a nora que mamãe pediu a Deus” ou “casa, comida, roupa lavada e Mercedes na garagem”, não tenha dúvida: deve estar por perto um Mulherão. Como? Se não pode ser você? Não. Se você tem dúvidas, não era com você. Um mulherão está sempre ciente do efeito que causa.

Já a Mulherzinha não. A Mulherzinha, ainda que seja linda de morrer, nunca causa tais efeitos. Ela usa roupas discretas, colônias sóbrias e, quando usa um decote, o que é raro nesse tipo de mulher, fica o tempo todo tapando com as mãos, numa atitude de “tá olhando o que??”

O Mulherão, em um relacionamento, brinca com você. Te usa sem piedade. Chega sempre atrasada – quando chega – não liga nunca, quase nunca atende ao telefone para se fazer de difícil, e não te dá nenhuma moral. E quando você diz que gosta de Fernando Pessoa, ouve jazz e que adorou “O Grande Ditador”, acha que você é bicha. Ou, no mínimo, meio afetado. Mesmo que ela ouça jazz e goste de pessoa. Ela pode, você não.

A Mulherzinha não. A Mulherzinha não só sente saudades, como te liga dizendo isso. Sai pouco e tem um ataque de ansiedade se você não liga no dia seguinte e, quando você sugere que saiam as oito, por que às seis tem jogo na televisão, te chama de insensível e diz que você estragou o jantar romântico com velas aromáticas seguido de uma sessão de “nove e meia semanas de amor” que ela tinha preparado. E não te acha bicha só por que você gostou de Razão e Sensibilidade. Ela só vai dizer que “essa sociedade careta e conservadora não entende a personalidade dos “filhos-únicos-criados-pela-avó-que-colecionavam-o-álbum-dos-Menudos-e-pulavam-corda-na-escola”. Ela te entende. Mulherões gostam de homens safados, rudes, cafajestes, que não tiram os olhos dos peitos dela durante o jantar.

Mulherzinhas gostam de cafuné, de ver televisão abraçadinho e de cartões melosos e românticos, e acha uma gracinha quando você chega com a gravata torta ou com o cabelo despenteado. O Mulherão te acharia um idiota. Não por não saber dar nó na gravata, mas por usar uma! Aliás, se você tá lendo isso e é mulher, provavelmente é uma Mulherzinha. Mulherões não lêem crônicas. Nem poemas. E acham que cronistas e poetas “são todos umas bichas que ficam escrevendo essas palhaçadas! Eu vou é prá academia… Claro, há exceções. Sempre há exceções. na verdade, toda mulher tem um lado mulherão e um lado mulherzinha. Cá entre nós, as mais interessantes são as que dosam isso da maneira perfeita. São as minhas preferidas, pra ser honesto. Eu mesmo conheci um Mulherão (e que mulherão!) que lê Pessoa, gostou de “O Grande Ditador” e até lê crônicas. E ia até gostar. Mas ia me achar bicha mesmo assim. Bom, não se pode lutar contra a natureza… Volto ao assunto numa próxima oportunidade.

Léo Luz

Você e ela

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Você já falava inglês quando ela nasceu. Você ouve jazz, blues, rock e bossa, e ela cantarola uns pagodinhos, adora o Eminem e curte o tum-ti-tum-ti-tum das raves e já cantou até em banda de forró. Você vai para barzinhos, musiquinha ao vivo e amigos tocando um violão. Pra ela, nenhum lugar com menos de cinco mil decibéis é bom. Você fala inglês, espanhol e francês, está fazendo mestrado e pensa em fazer uma segunda faculdade. Ela, cursinho pré-vestibular e curso de inglês.

Numa roda de amigos, você fala de música, política e arte. Ela pergunta logo o que aconteceu no capítulo de ontem da novela das oito. Quando você a apresenta pra sua mãe, ouve logo: “mas meu filho, você está namorando uma coleguinha do seu irmão?”. O pessoal do trabalho vive te sacaneando, perguntando se você recita músicas da Ivete pra ela. Você lê Tolstoi, Dickens, Proust, Kafka… Ela tem todos os livros do Paulo Coelho, assina a Caras e não perde um livro do tipo “Fulana F. : drogada, prostituída, fodida e vendendo milhões de livros”.

Você se preocupa com os prazos do cliente e com o dinheiro que ainda não caiu na sua conta, e ela só pensa na prova de química. Quando você chega na casa dela pra sair, a mãe dela te olha como se estivesse deixando a filha passar um fim de semana com o Michael Jackson em Neverland. Mas você nunca tinha parado pra pensar nisso. E nada disso faz a menor diferença quando ela te olha com aquele olhar de gatinho em pet shop, diz que está cansada e se aninha no seu peito, fechando os olhinhos, suspirando e pedindo cafuné. Nada disso importa…

Léo Luz